quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A problemática da liberdade

O tema da liberdade é hoje uma das grandes temáticas que leva, ou antes, deveria levar o homem pós-moderno a repensar e a reavaliar sua posição frente a esta complexa realidade que envolve diretamente o homem e a sua maneira de agir perante o mundo. Antes de se discorrer sobre o conceito Paulino de liberdade na Carta aos Gálatas faz-se mister compreender o que hoje se entende por liberdade, e descobrir como a mesma é vivida pelo homem pós-moderno. Para tal tarefa far-se-á neste capítulo primeiro uma análise conceitual da liberdade no contexto hodierno, passando brevemente por sua história, tentando perceber as evoluções do mesmo e suas implicações para a vida das pessoas no campo das relações. Em meio a uma realidade onde todas as ações dos indivíduos são movidas por um hedonismo e por um relativismo moral e ético sem precedentes, torna-se urgente uma reflexão que leve o homem pensar nesta realidade. Diante das variadas tendências e correntes de pensamento relativas a este tema, torna-se sempre mais urgente uma reorientação desta problemática na realidade humana. Diante de uma cultura que exalta cada vez mais o poder de decisão do indivíduo em detrimento das demais realidades que o cercam, torna-se sempre mais necessário uma reflexão séria sobre a questão da liberdade. não porque exista por parte do cristianismo uma ojeriza à cultura pós-moderna. Ao contrário. É pelo fato do cristianismo valorizar e exaltar o homem em sua realidade terrestre que ela procura sempre guiar a humanidade rumo a uma verdadeira experiência de liberdade salutar.
Vive-se hoje num mundo de perguntas, de incertezas. Ninguém tem segurança nas repostas a serem dadas. As mudanças são permanentes; o antigo, o tradicional parecem não mais servir para as novas gerações. O moderno se impõe. E bem se sabe que hoje este moderno também está em crise; falamos então do pós-moderno. Seja qual for a “era”, o certo é que vivemos num vazio; andamos aborrecidos; faz-se a experiência da ausência de sentido e normas; afunda-se num individualismo narcisista; todos são tomados por um niilismo, ou seja, por uma descrença absoluta frente à atual situação e sua hierarquia de valores, já que nada existiria de realmente absoluto. É nesse turbilhão de crise que a liberdade cristã é sacrificada.
Uma das características centrais da modernidade é a crença de que o Homem é, por seu raciocínio e suas livres decisões, capaz de chegar a proposições éticas válidas. Ele é melhor árbitro de sua vida do que quaisquer outras pessoas ou instituições. Não deve se submeter a nada que não seja sua convicção. Esta idéia é fundada na liberdade de consciência. Ela consiste não apenas em pensar qualquer coisa sem coação – mesmo porque os pensamentos são livres, até um ser humano vivendo sob opressão constante pode, a princípio, pensa o que quiser. Seu núcleo é a possibilidade de o homem reger sua conduta apenas segundo a sua convicção, segundo as regras que ele próprio definiu para si como valiosas e corretas. Mas isso, como dirá Paulo, não é liberdade, e sim, libertinagem. (cf. Gl 5, 13-14). Para ele a liberdade humana consiste numa vida de graça e de amor pelo seu semelhante. Para entender a novidade desta concepção de liberdade, é necessário contrastá-la com as anteriores, a saber, a liberdade como status, dos antigos gregos, e a liberdade como livre arbítrio, dos medievos. Em seguida, procede-se a uma breve notícia histórica da idéia de consciência; após, à noção de liberdade dela derivada e ao problema que ela traz; finalmente, ao estudo de uma solução proposta por Paulo na Carta aos Gálatas a este problema. Porque de fato chega a assustar o modo como no mundo contemporâneo o homem compreende e vive a liberdade. “(...) Os homens nunca tiveram um sentido de liberdade tão agudo como hoje, mas ao mesmo tempo aparecem novas formas de escravidão social e psíquica (...)” (GS n. 4). O laxismo parece ser a palavra de ordem. O indivíduo neste contexto vive uma falsa idéia de liberdade onde tudo está pautado nas suas livres e impensáveis decisões. Ele é o ponto de partida e a meta de chegada no campo das ações e das decisões. Pode-se afirmar ainda que este homem pós-moderno está inebriado e envenenado por uma engenhosa idéia de liberdade que só se encontra dentro dele mesmo. Parece ter perdido a dimensão da ressonância de suas ações na vida dos seus semelhantes. Em tal contexto a alteridade é totalmente excluída. Daí resulta a proposta de perceber na concepção paulina um sentido mais humano de liberdade. Fala-se em mais humano pelo fato de não querer fazer dessa realidade um puro ente de razão. A liberdade humana não poder ser compreendida senão mediante a sua cotidiana experiência de vida. Ela não é pura idéia, não é um conceito, uma abstração, não é uma gnose da qual o indivíduo se apropria. Antes de tudo a liberdade é expressão concreta na qual o ser humano manifesta e exercita a sua própria humanidade na relação amorosa com os seus semelhantes. E tudo isso, só se faz possível mediante uma profunda experiência de fé. Pensar a liberdade no mundo pós-moderno torna-se desse modo um desafio para aqueles que procuram se desvencilhar da atual compreensão que se tem. Mediante uma cultura que está totalmente voltada para o mundo do indivíduo, pensar a liberdade cristã torna-se uma grande tarefa para todos aqueles que querem de fato fazer uma verdadeira experiência de liberdade.

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