sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O homem como Transcendência e ao mesmo tempo responsabilidade e liberdade segundo Karl Rahner

A fenomenologia transcendental é parte abundantemente comentada na teologia de Karl Rahner. Devido a sua ligação ao Cristão anônimo tanto na receptividade ao conceito de Deus quanto na própria salvação dele, Rahner investe boa parte de seus escritos tentando, filosoficamente, analisar o fato de que em todas as etnias se constata o fenômeno da busca pelo transcendente. A escolha desse nome veio devido ao esforço filosófico de Rahner em mostrar que o ser humano é por natureza espírito. E é espírito que procura superar seus próprios limites e condicionamentos históricos; é ser de abertura ao totalmente outro. A ‘Reflexão Transcendental’ foi um instrumento filosófico nas mãos de Rahner usado para dizer que os seres humanos estão abertos para receber a revelação. Segundo Rahner, todos os seres humanos estão voltados para a transcendentalidade. “Onde quer o homem se experimenta em sua transcendência como interrogante, como inquietado por esse surgir do ser, como posto inefável, não pode conceber-se como sujeito no sentido de sujeito absoluto, mas somente no sentido de alguém que recebe o ser e, em última instância, graça. ‘Graça’ no presente referência, significa a liberdade de que o homem faz experiência em sua finitude e contingência, e significa também que o denominamos graça em sentido teológico mais restrito”.[1] Essa é uma das categorias que constituem o ser humano. É algo inerente ao ser humano voltar-se para o mistério da criação e da imanência. Por causa disso, todos transcendem a si mesmos e a natureza todas as vezes que pensam e questionam os fatos. Segundo Stanley J. Grenz e Roger F. Olson.[2], “demonstrar essa afirmação de modo filosófico foi a grande tarefa de Rahner, aquela que consumiu grande parte de sua energia teológica”. Desse modo, se percebe que Rahner tem como fundamento e objetivo para a sua reflexão evidenciar no ser humano esse seu caráter de transcendentalidade, sem, contudo, encerrá-lo numa perspectiva puramente vertical da realidade. “O homem, porém, enquanto ser pessoal que goza de transcendência e liberdade, é ao mesmo tempo um ser inserido no mundo, no tempo e na história”.[3] Daí que não se pode afirmar que em Rahner se encontra um puro transcendentalismo ou verticalismo. Essas dimensões (transcendentalidade e liberdade/responsabilidade “visam considera-lo como o resultante e o ponto de intersecção entre realidades que, por um lado, ocorrem no sei da experiência empírica, mas que, por outro lado, o estabelecem e determinam em sua realidade e, sendo assim, também o explicam”. [4] A grandeza seu pensamento é a harmoniosa relação entre transcendência e liberdade. “Enquanto o homem por sua transcendência se encontra em abertura total, é também responsável por si mesmo. Está entregue a si não só quando conhece, mas também quando age [...] Essa ação livre não ocorre somente nas profundezas ocultas das pessoas, fora do mundo e da história. Não obstante, a liberdade propriamente dita do homem continua sendo uma, pois constitui peculiaridade transcendental do sujeito uno como tal”.[5] Ele não usurpa do homem o seu status de ser livre e pessoal. A relação com a graça de Deus que abarca o homem em sua totalidade não pode, segundo Rahner, suprimir ou sufocar a sua liberdade. “uma relação pessoal com Deus, uma história da salvação genuinamente dialógica entre Deus e o homem, o acolhimento de sua salvação única e eterna, o conceito de responsabilidade do homem perante Deus e seu julgamento, todas essas afirmações do cristianismo, ainda que devam ser interpretadas com maior precisão, implicam que o homem é o que aqui queremos dizer: ele é pessoa e sujeito”.[6] Rahner preocupou-se em chamar a atenção à importância da ânsia do ser humano em transcender os limites da natureza humana, de ir além[7]. Os seres humanos estão cônscios de um sentido de terem sido feitos para mais do que agora são, ou seja, de que há mais além do mundo visível, um mundo, uma realidade que transcende. Embora essa percepção esteja inerente em todo ser humano graças ao existencial sobrenatural, a Revelação Cristã é a única, segundo Rahner, capaz de suprir explicações corretas quanto a esse mais. Rahner, em sua teologia antropocêntrica vai tentar provar que, todos os seres humanos são receptivos a Deus e só encontram realização pessoal no relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo como Salvador. Segundo Rahner, essa receptividade natural do homem a Deus é devido ao existente sobrenatural que há em todos os seres humanos, a graça.


[1] RAHNER, Karl. Curso Fundamental da fé. São Paulo: Paulus, 1989. p 49
[2] GRENZ, Stanley J.; OLSON, Roger E. Teologia do século 20. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 290.
[3] RAHNER, Karl. 1989 p.55
[4] Ibidem p 40
[5] Ibidem pp 50-53
[6] Ibidem p. 39
[7] MCGRATH, Alister E. Historical theology: an introduction to the history of Christian thought. Oxford: Blackwell Publishers, 1998. p. 336

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