quarta-feira, 14 de outubro de 2009

por que filosofar?

O que é o filosofar? Quem pode filosofar? Por que filosofar?
Pensamos na filosofia como a arte do pensar, como a arte do morrer. Por que o que é filosofar senão um morrer a cada instante em que se pensa? O que é o filosofar senão renunciar às verdades prontas e inacabadas. Podemos então afirmar que de fato, filosofar é morrer. Morremos para as nossas vãs convicções, morremos para as nossas idéias dogmáticas. A filosofia não nos dar a certeza como horizonte de reflexão. Ela nos orienta à busca da verdade, mas não nos dá a sua garantia, até porque se assim o fosse não estaríamos filosofando. Filosofar significa acordar a cada dia buscando sentido para a existência através daquele que chamo aqui de primeiro método da filosofia. Estou falando do “espanto” que fez com que surgisse a filosofia. Precisamos, ao acordar, olhar o mundo e nos assustarmos com aquilo que nos cerca. Parece que o homem moderno perdeu a sensibilidade por aquilo que outrora fora fundante na Filosofia Antiga. A admiração nasce sempre do desejo de conhecer, de contemplar. Perdemos isso há muito tempo. Parece que o mundo não oferece mais nada de novo. Já não encontramos sentido nos fatos presentes no cotidiano da história. O espanto desapareceu.
Daí que não temos mais estímulos para o morrer filosofando. Preferimos, como dissera Raul Seixas, “as velhas opiniões formadas sobre tudo”. Temos medo de filosofar, porque isso implica em pensar um novo sentido da existência, ou seja, morrer para as velhas idéias. Filosofar implica num despojamento e numa exposição aguda ao mundo como ele se apresenta. Acredito que para muitos isso é por demais desafiador. Fossilizamos nosso pensamento, nossas idéias e nosso desejo de filosofar. A mediocridade fala mais forte numa sociedade carcomida pela falta de gnose, pela apatia frente à realidade total que nos abarca. Já não mais morremos filosofando porque escolhemos viver vegetando na cultura do nada, no mundo do fragmento, na realidade da “desrazão”.
Viver nessa condição significa se fechar ao conhecimento do mundo, do homem e de Deus. Significa negar a nossa essência. Nascemos para buscar, para indagar sobre o sentido nosso no mundo. O principio primeiro de tudo é também nossa rota de especulação. É por ela que todo homem que pensa deve traçar o seu morrer filosofando.
A busca pelo sentido da realidade continua a ser uma incógnita com a qual ainda nos debatemos. Esse é de fato o veio condutor da filosofia. A busca deve ser nossa eterna companheira. Sócrates dizia que uma vida sem buscas não merece ser vivida. Nós diríamos hoje que uma vida que não caminha para o morrer filosófico também não vale a pena ser vivida. Porque o homem é essencialmente o ser da procura. Somente ele procura o sentido da vida, o sentido da existência, o sentido do nascer, o sentido do morrer, em fim, o sentido de tudo.
Nossa grande crise hoje é justamente a falta de sentido, a falta de horizontes que nos norteiem. Esta não afeta apenas as dimensões da ética e da moral, mas toda a estrutura do homem enquanto ser pensante que se constitui dentro de um mundo de relações amplas. Talvez seja uma idéia anacrônica dizer que vivemos num tempo em que o filosofar já não se faz possível. Mas pensamos que este é um fato verificável. Inclusive as correntes filosóficas que hoje surgem são fruto dessa atual época de relativização e de deterioramento do sentido do existir.
Para muitos pensadores vivemos num tempo de transição, de ruptura. Segundo o filosofo Thomas Kuhn estamos superando um paradigma e adentrando noutro. Não podemos fazer previsões daquilo que virá. Contudo, podemos afirmar que redescobrir o filosofar faz premente. Nosso maior drama seria vivermos eternamente angustiados por um plano totalmente horizontal, depressivos por não cumprir a nossa finalidade: viver filosofando, perscrutando o fim último de toda a realidade. Aos homens que não pensam e nem filosofam resta a torturante sensação de que tudo está segundo seus rumos normais. A ignorância é uma droga aliciante que nos encurrala dentro de um mundo limitado e condicionado pelos velhos esquemas mentais que sempre nos orientaram.
Convido todos a descoberta da morte, a descoberta do filosofar como remédio para as nossas dores. Desde já vos alerto dos efeitos colaterais desta postura. Quando o homem passa a filosofar dar-se início a um longo processo de sofrimento. Volto a afirmar que filosofar é morrer justamente por nos colocar frente a ALETHEIA, a verdade, ao desvelado, ao ser manifesto no mundo. Contudo, vale a pena arriscar-se neste mundo. É uma gostosa angústia, mas ao menos nos satisfaz.

2 comentários:

  1. Gostei muito do texto. Parabéns! você escreve muito bem. Essa frase me chamou atenção; "A filosofia não nos dar a certeza como horizonte de reflexão. Ela nos orienta à busca da verdade, mas não nos dá a sua garantia, até porque se assim o fosse não estaríamos filosofando" de fato, isso me lembra o desejo de Descartes em conhecer a verdade. Para isso é necessário a regra da evidência, isto é, aquilo que não há possibilidade de dúvida. Nisso não posso adimitir uma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal. Para Descartes existe uma coisa de que não se pode duvidar, a própria existência. Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso. "Penso, logo existo, cogito ergo sum". Para ter essa certeza o caminho é o filosofar.

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  2. Filosofar é dialogar e viver com sabedoria,sendo que não nessesáriamente esta sabedoria seja adiquerida nos livros, mas prioritariamente seja adiquerida na vivência do dia-a-dia.Para isso, precisa-se questionar os conceitos do senso comum.

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