sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A filosofia: uma invenção dos gregos

“Uma vida sem buscas não merece ser vivida” (Sócrates)

Existe um cosenso entre os estudiosos e pesquisadores referentes a este problema. Para uma parte deles, a filosofia teria sido criada de fato pelos gregos. Seus germes estariam na mitologia, passando por figuras lendárias como o poeta Homero, as grandes teogonias e os grandes mitos de criação até chegar em seu período áureo com os chamados expoentes da filosofia na Grécia. Sendo assim, ao se falar do surgimento da filosofia deve ter em mente de que filosofia está se falando e quais os elementos definidores e balizadores da mesma. Portanto, segundo o pesquisador italiano Giovane Reale, o gênio grego se dá pela sistematização desse conhecimento dito filosófico. Este pensador faz parte de um considerável grupo que afirma categoricamente não haver nenhum traço semelhante entre a filosofia grega e o pensamento oriental. Estes pensadores afirmam serem ambos campos totalmente diferentes, mesmo se percebendo muitas semelhanças entre alguns filósofos gregos como Sócrates, Diógenes e figuras orientais como Buda, Confúcio etc. Veja o que diz Reale/Antiseri (2003, p. 4):
A filosofia foi criação do gênio helênico: não derivou aos gregos a partir de estímulos precisos tomados das civilizações orientais; do Oriente, porém, vieram alguns conhecimentos científicos, astronômicos e matemático-geométricos, que o grego soube repensar e recriar em dimensão teórica, enquanto que os orientais os concebiam em sentido prevalentemente prático.


Pode-se inferir que a categoria grega de pensamento ganha um destaque pela forma de abordar a realidade e pela tentativa de sistematizar o pensamento. Pense-se, por exemplo, em Aristóteles com o seu Organon.[1] Desse modo, o gênio grego se define não apenas pelos seus desejos de conhecimento, comum a todos os demais povos tanto do oriente quanto do ocidente, mas pela sua organização das idéias e pela sua aplicação á vida na polis.
A partir dessa perspectiva, pode-se afirmar que a filosofia é uma invenção grega não pelo fato dos mesmos a terem criado, e sim pela constatação de sua organicidade e de sua sistematização. Não se pode negar a presença de filosofias nos povos orientais. É claro que a orientação deles era diferente. Desenvolviam uma filosofia que se desenrolava no plano prático da vida, enquanto que os gregos teorizavam as questões existenciais. Pense também nos grandes diálogos de Platão, na vasta obra de Aristóteles. Estes homens construíram grandes estruturas de pensamento da realidade que influenciaram todo o ocidente e oriente. Quando se fala aqui de sistemas filosóficos, quer se compreender uma filosofia que tenta abranger todos os aspectos da realidade humana (Deus, mundo, Homem). É de fato este, o grande tripé que norteia não apenas a filosofia, mas também as demais ciências. Por exemplo, Platão e Aristóteles são considerados os filósofos da síntese. E isso em vista de eles terem resumido e fundido toda a especualçao dos filósofos da chamada filosofia da physis.[2] A filosofia da natureza caracterizará o primeiro momento do pensamento filosófico na Grécia. Neste período destcar-se-ão nomes como os de Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Empédocles, Parmênides etc.
Por que na Grécia?

Essa é também uma das perguntas que paira na cabeça de muitos estudiosos em busca das origens da filosofia ocidental. É de fato curiosa esta pergunta porque em relação aos demais povos do mundo antigo, os gregos são posteriores aos fenícios, aos egípcios e aos mesopotâmicos. Então porque na Grécia?
E na busca de pistas que orientem a compreensão, seguir-se-á o velho mestre Geovani Reale, percebendo os fatores que possibilitaram o nascimento do pensamento na Grécia.
A filosofia nasce na Grécia num contexto em que as condições econômicas, políticas e sociais a favoreceram, ou seja, a estabilidade das Cidades gregas e das suas demais colônias serviram de pano de fundo para o alvorecer de uma nova era para o mundo. Um aspecto curioso e que chama a atenção nesse processo de formação da filosofia grega é que suas colônias (Mileto, Êfeso, Jônia), só posteriromente é que a filosofia desembocaria em Atenas. Portanto, o que se percebe é que os homens começam a pensar por motivo daquilo que se pode chamar de um ócio criativo. Nenhuma nação pode pensar ou teorizar a realidade procurando princípios unificadores da realidade quando se encontra em guerrras constantes ou quando seu povo passa por desafios políticos e econômicos. Para Reale/Antiseri são estes os fatores externos que possibilitaram o surgimento de um pensamento sistemático e organizado. Quanto aos fatores externos, já fora citado acima alguns. Vale apena relembrar. A cultura grega sempre foi marcada desde as suas origens pelas influências da mitologia e dos famosos poemas de Homero e Hesíodo, além disso, as mitologias embalavam e determinavam as explicações plausíveis perante a realidade. Isso foi determianante para uam posterior evolução do pensamento. Além disso a religião grega também deu suas contribuições para que depois houvesse um amadurecimento da filosofia. Vale lembrar que as duas forma de religião na Grecia (a pública e a órfica)[3] sempre gozou da ausência de dogmas fixos e vinculantes em sentido absoluto, de textos sagrados revelados e de intérpretes eguadiões desta revelação. Desse modo, a liberdade religiosa veio a favorecer a liberdade de pensamento.
Os primeiros especuladores da realidade

É interessante notar que o traço característico dos primeiros filósofos gregos será a incessante busca pelo princípio originário de todas as coisas. A isto eles davam o nome de Arché (expressão grega que significa princípio, origem). A partir dessa busca, dar-se-á início ao ato do filosofar. Os homens passam nesta primeira fase
[1] O Organon, que significa orgão, é uma grande obra de Aristóteles na qual o estagirita oferece ao leitor os princípios e as bases organizadoras do pensamento. Este texto ensina ao leitor como pensar o próprio pensamento por meio do reto uso e articulação dos silogismos, das proposições, das premissas etc. em síntese a obra ensina como estruturar as próprias idéias em suas categorias mentais.
[2] Designa-se por filosofia da physis o primeiro momento da filosofia grega marcada por uma especulação estritamente naturalista. Nesta primeira fase, chamada por Geovani Reale de primeira navegação, os filósofos empreendiam um rigoroso processo de especualçao do mundo procurando encontrar aquilo que eles chamavam de Arché (princípios) por meio da observação dos elementos físicos do mundo. Daí se originou a palavra phisis, do grego natureza.
[3] A religião pública era inspirada no poeta Homero e esta considerava os deuses como forças naturais ampliadas na dimensão do divino; já a religião órfica vê o homem como uma dualidade: copor e alma. A alma imortal, concebida como demônio, que por uma culpa originária foi condenada a viver em um corpo, passa a ser prisioneira deste. Para eles o corpo é cárcere da alma. Daqui resulta o dulismo da filosofia grega.

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