segunda-feira, 5 de abril de 2010

A corrida para o amado

A páscoa assinala na vida cristã a grande certeza da vitória de Cristo sobre a morte. A Ressurreição de Cristo nos mostra que não há mais o que temer. Morrendo e ressuscitando Jesus Cristo destrói a própria morte. Se com Ele morremos, também com ele ressuscitaremos para uma vida plena, livre de toda mancha e pecado (cf. 1Cor 15, 13-14). “Porque se nos tornamos uma só coisa com ele por morte semelhante a sua, seremos uma só coisa com ele também por ressurreição semelhante à sua” (Rm 6, 5). Essa certeza apresentada pelo Apóstolo Paulo é o grande indicativo da fé que fundamenta o cristianismo.
O primeiro domingo de Páscoa toda Igreja celebra essa certeza através do sepulcro vazio e do testemunho de Maria Madalena, de Pedro e do discípulo amado, João. Estes são os primeiros a fazerem a experiência com o acontecimento que mudaria totalmente a história da humanidade. Eis que o sepulcro está vazio, a morte não o segurou, pelo poder de Deus Cristo ressuscitou (cf. At 2,24).
Os aspectos para a reflexão deste texto de hoje são diversos. Há muitas particularidades que exigem uma reflexão mais aguçada. Mas para a nossa reflexão gostaria de destacar um fato interessante no texto de João. Ele faz questão de frisar que tanto Maria Madalena, quanto os demais discípulos, Pedro e João, correm apressadamente para se depararem com aquele acontecimento. “Corre, então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus amava, e lhes diz: ‘Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram’ (Jo, 20, 2)”; “Os dois corriam juntos, mas o discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro” (Jo 20, 4). Todos correm porque sabem o significado do prêmio da corrida. “Irmãos, esquecendo-me do que fica para traz e avançando para o que está à frente, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (Fl 3, 13b-14).
A corrida é muito simbólica, mas ao mesmo tempo adquire um aspecto teológico muito interessante. Ela é reflexo daquilo que pulsa no coração do homem, ela exprime o desejo e ao mesmo tempo a angústia daqueles que esperavam encontrar novamente o mestre de Nazaré, Jesus Cristo. Assim como Maria se dirige apressadamente à casa de sua prima Isabel para comunicar-lhe as maravilhas que o Senhor havia realizado em seu favor, também os discípulos correm apressadamente para poderem sentir novamente seu coração vibrar pela presença salvadora e transformadora de Cristo. Os discípulos querem sentir novamente aquela grande experiência que outrora marcara suas vidas, e por isso eles correm. Mas não é uma corrida para o vazio, para o nada, não. Eles correm para uma realidade que está acima deles e que é capaz de corresponder às exigências do seu coração.
O homem só pode correr atrás daquilo que corresponde aos desejos mais profundos do seu coração, ele só pode se entregar aquilo que dá sentido à sua vida e que corresponde às suas inquietações. Porque nós só corremos para aquilo que amamos. É o amor que nos tira da inércia dos fatos e nos desperta para a busca pelo amado. Aí está o sentido dos discípulos vencerem o medo da madrugada, rasgando a noite escura correndo ao encontro do Senhor da luz, Cristo Jesus. “Em meu leito, pela noite, procurei o amado de meu coração (Ct 3, 1).
A vida cristã se traduz numa constante corrida ao encontro do prêmio da vida, Cristo (cf. Fl 13b-14). E nessa corrida enfrentamos os desafios e barreiras que procuram nos impossibilitar de chegar à meta. Mas quem ama vence todo medo e desilusão. Assim como Maria Madalena, Pedro e João, também nós somos hoje chamados a esta grande corrida. Vamos ao encontro do Senhor, superemos tudo aquilo que nos impede de alcançá-lo. Que o nosso amor pelo mestre de Nazaré seja sempre maior que o medo das trevas da madrugada. Rompamos a penumbra da angústia e nos entreguemos à Cristo, luz da vida, luz da humanidade, luz da história.

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